O racismo, muitas vezes, não se manifesta apenas em palavras diretas ou agressões explícitas. Ele se revela em gestos sutis, em olhares que diminuem, em silêncios que excluem e, ironicamente, na forma como algumas pessoas demonstram mais respeito por objetos do que por seres humanos.

Hoje, sentei-me diante de um homem branco que, nos pequenos detalhes, deixou transparecer seu racismo. Ele evitava contato visual, sua linguagem corporal expressava desconforto, e cada gesto parecia carregado de uma superioridade silenciosa. Mas o que mais me marcou foi a forma como ele tratou os pratos à sua frente. Quando terminou a refeição, levantou-se com calma, organizou os pratos com cuidado e os manuseou com uma delicadeza que ele não ofereceu a mim.

Foi como se, naquele momento, aqueles objetos tivessem mais valor do que eu. Como se a porcelana merecesse mais respeito do que uma pessoa negra. Como se a fragilidade de um prato justificasse mais consideração do que a dignidade de um ser humano.

Essa cena me fez refletir sobre como o racismo se esconde nas coisas mais banais do cotidiano. Muitas vezes, os mesmos que descartam vidas negras são os que preservam com zelo seus bens materiais. A casa de luxo, o carro caro, a taça de cristal — tudo tratado com estima, enquanto pessoas são ignoradas, desumanizadas, reduzidas a invisibilidade.

O racismo, nesse caso, não foi um ato direto, mas um reflexo daquilo que ele considera digno de cuidado e respeito. E essa hierarquia de valores, onde um prato é tratado com mais consideração do que uma pessoa negra, diz muito sobre o mundo em que vivemos.

No entanto, a maior verdade é que nenhum olhar de desprezo pode definir o nosso valor. Nossa existência transcende qualquer estrutura racista. Somos a força da nossa história, a resiliência dos que vieram antes de nós, a dignidade que nenhuma sociedade poderá apagar. Se há algo que deve ser tratado com respeito, é a vida. E a nossa vida vale mais do que qualquer objeto sobre uma mesa.

DANIYYEL DE JESUS